Avanços da tecnologia amenizam tratamentos de pacientes renais
Sintomas silenciosos exigem prevenção redobrada
Ela surge discretamente, com pouco ou nenhum sintoma, e boa parte dos pacientes só descobre ser portador de uma doença renal quando o problema já está em estágio avançado, e pouco se pode fazer para salvar a função do órgão. Um em cada dez brasileiros, de acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), sofre de algum mal nos rins, como cálculos renais, infecções ou pielonefrite, cistos, tumores, e perda da função renal ou doença renal crônica, mais conhecida como insuficiência renal.
Dados da SBN mostram que, a cada ano, cerca de 21 mil brasileiros precisam iniciar tratamento por hemodiálise ou diálise peritoneal. Na maioria das vezes, para o resto da vida, se não houver possibilidade de um transplante renal. Raros são os que conseguem ter pelo menos uma parte dos rins recuperada para deixar de depender de diálise, e poucos têm a sorte de receber um transplante renal. Em 2012, foram 5.402 brasileiros .
O rim, normalmente, é duro na queda e resiste até os últimos momentos, explica o médico nefrologista Istênio Pascoal. “Somente quando ele perde 90% ou mais de sua função, caracterizando a insuficiência renal, é que o paciente precisa ser submetido à hemodiálise ou ao transplante renal.”
“O diabetes é uma das maiores causas. A doença tem atingido proporções alarmantes, em virtude do aumento paralelo da obesidade e do envelhecimento populacional”, diz Pascoal. A hipertensão arterial é outra grande causadora de insuficiência renal. Monitorar a pressão arterial é um aspecto importante da preservação dos rins. “Doenças do rim, as nefrites, e doenças genéticas, como a renal policística, também são causas comuns da perda da função dos rins e merecem uma atenção especial.”
Na fila do transplante, Débora (com Maria) faz sessões diárias de hemodiálise: "É uma nova etapa, cheia de esperança".
“É uma viagem de fragilidade e autoconhecimento, na qual se revela uma força e compreensão da vida, o que não deixa de ser um presente.” É assim que a jornalista Débora Santos, 36 anos, define sua caminhada sem o funcionamento dos rins. Foi em 2015, devido a uma doença rara que afeta a camada interna dos vasos sanguíneos — a Síndrome Hemolítico Urêmica Atípica — que Débora teve uma crise de insuficiência renal aguda.
Nos primeiros sinais de insuficiência renal, Débora foi encaminhada ao hospital, mas, com a rápida evolução do quadro, o problema se tornou crônico e já não era mais possível revertê-lo. A hemodiálise diária para suprir a função dos rins entrou, então, na sua rotina.
“Meus rins não funcionam e vivo com um cateter no peito para poder passar pela hemodiálise.” O tubo passa por cima da clavícula e segue até o coração. “Por causa dele não posso nadar, não posso molhá-lo e tenho que ter muito cuidado com qualquer impacto. Esportes de risco, como lutas, estão fora de questão”, conta.
Submetida à hemodiálise diária, ela ressalta os benefícios — com o tratamento por duas horas, todos os dias, o cansaço é quase inexistente. “No método antigo, três vezes por semana, é como se tivéssemos corrido durante as quatro horas da sessão. O cansaço impossibilita a chance de trabalhar em seguida, por exemplo.”
Máquinas mais modernas tornaram o procedimento mais seguro e eficaz, explica a médica nefrologista Isabela Medeiros. A tecnologia possibilita o surgimento de várias modalidades terapêuticas. “Isso permite individualizar o tratamento, de acordo com as necessidades do paciente.” Uma das mais recentes formas de tratamento é a hemodiafiltração, em que o sangue passa por um filtro maior, que capta mais toxinas.
“Isso acontece porque o tipo de filtro e a pressão exercida durante a filtração arrastam moléculas maiores para fora do sangue, deixando o tratamento ainda mais eficiente”, detalha Isabela. Entre os resultados estão menores índices de inflamação, desnutrição e anemia, além de impacto positivo na qualidade de vida dos pacientes que recebem esse tratamento. Como aconteceu com Débora, que, dois meses após a crise renal, voltou a trabalhar. “Eu sabia que não era uma situação simples, estava lutando pela minha vida. Mas não me deixei abalar”, diz ela.
A novidade que mudaria sua vida para sempre veio em 2016, com uma gravidez inesperada. As múltiplas alterações hormonais nas mulheres e nos homens com doença renal crônica resultam em uma redução da fertilidade. Na mulher, pode ocorrer irregularidade dos ciclos menstruais e até ausência de ovulação. Débora começou a sentir fortes dores abdominais e febre, até que uma leva de exames apontou a gravidez. “Foi uma surpresa para mim e para os médicos. Eles me alertavam para não criar expectativas, pois as chances de dar certo eram pequenas e os riscos para o bebê e para mim eram grandes.”
Foram necessários cuidados para evitar a anemia e também dedicar mais tempo à hemodiálise. A gestação seguiu tranquila nos cinco primeiros meses, até surgirem os sinais de pré-eclâmpsia, doença hipertensiva específica da gravidez. “Decidi que me agarraria à ideia de que tudo daria certo e montei o quarto e o enxoval da minha filha. Os médicos ainda pediram para eu não me encher de expectativa, mas segui firme”, diz Débora.
Aos 7 meses de gestação, ela deu à luz Maria, que pesava apenas 700g e precisou ficar internada por dois meses. “Ela é um milagre em nossas vidas, por isso seu nome”, emociona-se. “As coisas mudam quando temos filhos. Essa é uma nova etapa cheia de esperança”, diz a jornalista, que se prepara para o transplante renal. “Estou passando por testes de compatibilidade com meu padrasto e os resultados têm sido bons.”
"Sou uma pessoa muito feliz e, graças ao meu novo rim, posso fazer de tudo." Leonardo Mota, depois de enfrentar três anos de hemodiálise e um transplante
Quem o vê aos 74 anos, cheio de vida, não imagina que o assessor de comunicação Leonardo Mota sofria de perda progressiva e irreversível das funções renais. Há quatro anos, quando renovou o exame médico ocupacional, ele descobriu uma grande elevação na pressão arterial. “Pediram outros exames, que logo apontaram um pré-estágio da doença renal crônica, e não era possível ser revertido.”
No primeiro instante, o choque. “Estamos acostumados a ver esse tipo de coisa acontecendo com os outros, nunca com a gente. Mas decidi que queria encarar essa nova fase como uma experiência diferente na minha vida”, conta Leonardo, que enfrentou três anos de hemodiálise. “Quando cheguei à clínica pela primeira vez, eu me deparei com muitos colegas pessimistas e sem esperança de viverem uma vida longa e feliz. Resolvi, então, criar um blog para escrever sobre minhas experiências como paciente da hemodiálise e tentar trazer ao menos um pouco de esperança e alegria a eles”, conta.
Depois de três anos na fila de espera pelo transplante renal, a vez de Leonardo chegou. “Tem pacientes que esperam uma eternidade. Infelizmente, temos um deficit grande de doadores e, por todo o processo que vivi, não posso deixar de me considerar extremamente sortudo”, comenta. Hoje, ele vive normalmente, livre da hemodiálise. “Ao meu lado, só carrego os medicamentos que impedem a rejeição. Afirmo que sou uma pessoa muito feliz e, graças ao meu novo rim, posso fazer de tudo.”
Como controlar
A melhor maneira de identificar precocemente a doença renal é através de exames de sangue e urina. A dosagem da creatinina sanguínea permite calcular a taxa de filtração sanguínea dos rins. O exame simples de urina — o Urina 1 ou EAS — pode identificar a presença de sangue, proteínas, glicose ou outras substâncias que apontam para uma possível doença renal.
Fique atento
As doenças renais podem se manifestar de maneiras diferentes. Por isso, preste atenção a alguns sinais, como:
Fonte: Revista Correio Braziliense
Centro Médico Lúcio Costa
SGAS 610/611 – Conjunto F – Lote 74
Bloco 2 – Térreo – Salas 1 a 7